HISTÓRIA DA FÁBRIKA DE FITAS E BANDEIRAS VENSKE

Foi em 1907 que Gustavo Venske fundou a Fábrica de Fitas Venske. Inicialmente, uma pequena manufatura de fundo de quintal, sediada numa casa alugada na Rua Assungui (atual Mateus Leme, em Curitiba), onde foram instalados 3 antigos teares suíços usados, comprados por Gustavo com seu próprio capital. A pequena fábrica produzia fitas utilizando matéria-prima importada, e revendia seu produto numa Loja de Ferragens e Armarinhos (Müller & Venske Cia.) de propriedade de Gustavo e de seu cunhado Oscar Charles Müller.

A empresa prosperou e em 1912 mudou-se para o Largo da Ordem, passando a ocupar um barracão nos fundos da mesma loja. Nesta mesma época, o filho mais velho de Gustavo, Alfredo Venske, retornava da Europa, trazendo na bagagem um diploma de Técnico Tecelão obtido em cursos realizados na Suíça e na Alemanha. Com a mudança da Fábrica para o novo endereço e a consequente ampliação do maquinário, a empresa particular de Gustavo Venske passou a constituir-se numa sociedade com seu cunhado, Oscar Charles Müller, e com seu filho mais velho, Alfredo.

Durante todo o período de seu funcionamento – mais de 70 anos – a mão-de-obra empregada pela Venske seria feminina e de baixa faixa etária: operárias que ingressavam no trabalho fabril com 14/16 anos, permanecendo num período de aprendizagem de dois anos até atingir a maturidade profissional. Mão-de-obra, portanto, de alta rotatividade, uma vez que muitas operárias, neste meio tempo, casavam, abandonando logo em seguida seus empregos. Já a mão-de-obra masculina seria empregada pela empresa mais na parte de oficina, marcenaria e mecânica.

Em 1917, a Fábrica mudou-se para sua primeira sede própria, situada na confluência das ruas Conselheiro Laurindo e Marechal Deodoro, construída com altura apropriada para abrigar seus teares, que então somavam 64. Número que expressa bem a pujança dos negócios da empresa àquela altura. Mas nem todos os 64 teares couberam na nova sede. E isto levou a Venske a encontrar uma solução “sui-generis”, tanto para solucionar seu problema de espaço físico, quanto para solucionar o problema das tecelãs que, casando, abandonavam seus empregos: a instalação de teares nas próprias residências das tecelãs, em barracões construídos pela empresa. Desta forma, a Fábrica utilizava a mão-de-obra da família inteira, que recebia por tarefa, obtendo um substancial rendimento extra ao fim de cada mês. A Venske chegou a ter 23 teares instalados em casas de tecelãs por volta de 1937, quando progressivamente, teve de abandonar esta forma de operação, em função das novas leis trabalhistas implantadas durante o Governo Vargas.

Com a conjuntura anti-germânica resultante da eclosão da Primeira Guerra Mundial, a empresa, para não sofrer abalos no seu prestígio crescente, usou de uma estratégia temporária: mudou de nome. Chamando para sócio Eduardo Moraes Sherrer, casado com Helena Venske, filha de Gustavo, a empresa passou a denominar-se, durante algum tempo, Moraes & Cia. Posteriormente, na década de 20, Eduardo revendeu suas ações de volta à família, desligando-se definitivamente da empresa. Nesta mesma época, ainda, o filho mais novo de Gustavo Rodolfo Venske, ingressava na sociedade. E no início da década de 30, finalmente, a família Venske adquiriu as ações de Oscar Charles Müller, passando a deter completamente o controle acionário da empresa daí por diante.

Desde sua fundação, a Venske notabilizou-se por fabricar produtos de boa aceitação no mercado nacional, como resultado de sua alta qualidade. Principalmente, no eixo Rio/São Paulo, onde a empresa vendia 80% de sua produção para indústrias que utilizavam suas fitas como adornos em chapéus, roupas, etc. Entretanto, a Venske nunca conseguiu produzir tanto quanto o volume de pedidos que recebia. Mesmo não havendo registro de parada de produção durante toda sua história. Entre seus principais concorrentes, a destacar, teríamos a Fábrica Ítalo-Brasileira, da Família Matarazzo, em São Paulo, e a Fábrica Suiço-Brasileira, em Piraí do Sul, Rio de Janeiro. Muito embora não se possa falar numa concorrência direta, uma vez que nem uma das duas produziam pelo mesmo sistema Venske, fazendo apenas fitas unicolores e de qualidade inferior ao produto paranaense.

Em 1938, a Venske trocou novamente de endereço. Desta vez, por definitivo. Da esquina das ruas Conselheiro Laurindo com Marechal Deodoro, a empresa passou a ocupar uma nova sede, com 10.000m², construída especialmente para abrigar suas instalações, na Rua Ubaldino do Amaral, Alto da Rua XV de Novembro. Ali, depois de várias ampliações que alcançaram os 16.000m², a empresa funcionaria até 1980.

Na década de 40, a estrutura de funcionamento da Venske sofreria inúmeras transformações. Não apenas pelo clima de grande austeridade internacional, em função das hostilidades da 2ª Grande Guerra. Mas, principalmente, em virtude do falecimento de seu fundador, Gustavo Venske, de sua esposa, Helena, e de seu filho, Alfredo: O que faria com que a 3ª geração Venske fosse, progressivamente, tomando a frente dos negócios da família. Incluindo Olavo Sherrer, também neto de Gustavo e Helena, químico industrial que teria um importante papel na implantação da estamparia da Fábrica; e Otto Ernest Stender, chefe de escritório da fábrica, convidando a participar da empresa como sócio, num estímulo à sua extrema dedicação. Nesta mesma época, o filho de Rodolfo, Guido Venske embarcou para a Europa a fim de estudar e avaliar as possibilidades de modernização da Fábrica. Guido retornou da Europa no final da década de 40, trazendo importantes subsídios para a instalação de novas máquinas, e também para a construção de máquinas nas oficinas da própria empresa – prática que a Venske adotaria daí por diante, em função das dificuldades de importação.

E foi pelas mãos desta geração, tendo à frente o jovem Guido Veske, que a velha empresa conheceu seus dias de maior glória. Chegando a atingir o recorde de produção da ordem de 800.000 metros de fita/mês e a somar 130 empregados em sua folha de pagamento. E mais ainda: a partir de 1952, como resultado do desenvolvimento e aprimoramento de sua estamparia, a Venske passou a fabricar bandeiras, tendo atingido um alto padrão de qualidade, em seda acetado, e um volume de produção bastante expressivo.

Durante este período, a sociedade sofreu uma grande fragmentação, chegando a ter perto de 10 sócios por volta de 1957. Quando muitas desistências levaram Guido Venske ao controle acionário majoritário.

Com o início da década de 60, mesmo tendo experimentado um período de grande prosperidade, a velha fábrica passou a sentir com mais intensidade o peso dos anos. Principalmente, em função da crescente dificuldade de recrutamento da mão-de-obra artesanal que sempre utilizara, e pela deserção maciça de seu quadro de funcionários, seduzidos pelas novas perspectivas profissionais que surgiam. O que levou a empresa, paulatinamente, a um verdadeiro beco sem saída, uma vez que seus principais tecelões, tecelãs e mestres já se encontravam em idade de aposentadoria.

Em 1964, desapareceu o último elo de ligação com a geração Venske – Rodolfo, pai de Guido.

Em 1970, Guido ainda viajou para a Europa a fim de reavaliar a possibilidade de modernização da empresa, e de abrir o mercado europeu para os produtos Venske, principalmente bandeiras. Mas tendo encontrado sérios entraves para a comercialização da empresa, e tendo esbarrado nos altos custos dos equipamentos modernos, retornou ao Brasil imediatamente, passando a dedicar-se completamente à liquidação dos negócios da empresa. Afinal, durante seus mais de 70 anos de funcionamento, a Venske jamais experimentara um expressivo avanço tecnológico, continuando a produzir, em plena década de 70, dentro dos mesmos moldes de quando começou suas atividades, em 1907.

Diante da impossibilidade de modernizar seus quadros, até mesmo porque suas instalações já se encontravam em zona residencial do centro de Curitiba, a empresa viria a cessar de uma vez por todas suas atividades em 1980.

Uma era chegava ao fim.